Medo
Quando nos deparamos com a questão: “És inteligente?”, creio que a melhor resposta será sempre: “Quando me convém.”
Depois de sucessivos saltos evolutivos o homem destaca-se
dos restantes animais pela capacidade de efetuar raciocínios complexos.
Grosso modo, mercê dessa evolução, de acordo com Maclean, a capacidade de decisão pode
advir de três zonas distintas: o cérebro reptiliano — responsável pelos
instintos básicos de sobrevivência —, o cérebro mamífero — responsável pelas
decisões de “manada” — e o cérebro primata — responsável por um entendimento
mais abstrato e por cálculos mais elaborados.
Anatomicamente temos também inúmeras peças de puzzle no interior
do nosso crânio: o tronco cerebral, o hipotálamo, o tálamo, o hipocampo, o córtex,
o cerebelo, a pineal, a hipófise, a amígdala, entre outras.
Quanto maior a permanência decisória nos dois cérebros mais
primitivos — o reptiliano e o mamífero —, menor é a capacidade de evoluir
emocional e espiritualmente. Este padrão, infelizmente, é o mais recorrente nos
últimos tempos, mercê dos sentimentos de medo que andamos a permitir que nos
sejam impingidos.
Por norma, a amígdala — não a amígdala que a medicina gosta
de remover às criancinhas com amigdalites de repetição, mas a amígdala
cerebelosa — tem uma importância significativa ao nível do processamento das emoções,
inclusive da própria agressividade. É por ela que passa o processamento de
vários estímulos biológicos e, também, do medo. Os óleos essenciais têm
uma boa capacidade de atuar sobre as emoções porque têm a facilidade de atravessar
a barreira hematoencefálica e atuar precisamente a nível da amígdala. A mesma
coisa com os sons e até com certas frequências…
Muito resumidamente, quando se trata de medo, somos
altamente manipuláveis e se quisermos que o medo persista basta que haja um padrão de insistência e/ou que sejam emitidas continuamente certas frequências disruptoras.
Podemos desejar ser altamente evoluídos. Podemos mesmo chegar
a desejar uma clara superioridade sobre os restantes animais. Porém, há
evidências que demonstram que a natureza consegue sempre prevalecer sobre o
mental: há mais partos na lua nova e há mais sexualidade na lua cheia. Já
pensaram porquê? O luar confere uma luminosidade própria da noite, de meia-luz,
propícia ao acasalamento. A lua nova é a ausência da luz, para que os partos
decorram em mais segurança, no escurinho da noite. Perguntem a qualquer
obstetra experiente.
A mesma coisa em relação ao medo. Aprendemos a controlar (e
a domesticar) os animais por recurso ao medo. O medo é, afinal, a melhor forma
de impor um controlo sobre a “manada”.
“Dê-me o controle dos meios de comunicação e farei de qualquer país um rebanho de porcos.”, Joseph Goebbels
No passado, perante uma ameaça concreta, vamos supor um urso
que entrasse na nossa caverna, ativávamos o sistema “luta ou fuga” com base no
nosso cérebro reptiliano. Independentemente de qualquer das decisões básicas, “reptilianas”,
de luta ou de fuga, o sistema autónomo (simpático e parassimpático) era impreterivelmente
ativado: suores frios, vasoconstrição, aceleração do ritmo cardíaco e
respiração e produção de adrenalina.
Já pensaram porquê?
Porque o ritmo cardíaco aumentava o fluxo sanguíneo para “alimentar”
o cérebro e os músculos, com o intuito de fugir ou lutar mais eficazmente, os
suores frios para tornar a pele mais escorregadia e, caso fôssemos abocanhados
por um animal, conseguirmos ainda retirar um braço ou uma perna da boca do
predador, a vasoconstrição para que as feridas provocadas pelo ataque não nos
levassem a esvair em sangue e padecer por hemorragia. Tudo providenciado pela nossa
querida Natureza para que pudéssemos ter uma ínfima hipótese de sobrevivência.
Ora reflitam: suores frios, palpitações, respiração
ofegante, palidez. É o nosso sistema inato de luta ou fuga a ser desencadeado
ao escutar os nossos governantes a anunciar que há uma nova variante do vírus.
Um ataque de pânico sentado no sofá. O urso afinal está a
entrar pela janela…
Step out of
the box,
Ricardo
Novais
Photo by Priscilla Du Preez on Unsplash
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