Downshifting


Downshifting


Existe uma máquina infernal… Construímo-la cegamente neste marasmo, todos os dias, quando nos levantamos para ir trabalhar, na prossecução de uma pretensa felicidade, à custa da nossa estimada energia vital.

Porque, em bom rigor, o que a humanidade quer e deseja verdadeiramente, é apenas ser feliz. É simples!

Todavia, esta malfadada “máquina da felicidade”, atira-nos paulatina e irremediavelmente para longe da nossa essência. Da nossa autêntica natureza.

O Ser humano almeja um propósito de vida, um Ikigai, porque sente, bem no seu âmago, que só será feliz se se sentir genuinamente realizado. E deixem-se de ilusões: não se trata de uma mesquinha acumulação material ou de poder imaterial, mas antes uma volúpia por se reencontrar, por se sentir equilibrado, sem as pressões que a sociedade impôs… ou pior… pela pressão que nós próprios nos imputamos, para alimentar o nosso verdadeiro demónio - o EGO.

Um abraço…

Queremos ser os deuses da nossa era. Queremos todos fazer parte da construção do tal engenho que nos vai proporcionar a felicidade instantânea. Simplesmente… estamos ligados à ficha e já não conseguimos desligar...

A bolha tecnológica que nos faz sentir cripto-felizes, afinal, é uma mera quimera. Uma pérfida ilusão.
Troco mil likes por uma tarde bem passada com os amigos num bar à beira-mar.

Um abraço…

Nostalgia à parte, sinto efetivamente saudades dos tempos em que estava deitado no banco de trás do Fiat 128 do meu pai, ele travava a fundo e eu caía redondo no chão do carro – não havia sequer cintos de segurança nos bancos de trás… Tenho saudades quando os trolhas à frente da minha casa, no estaleiro das obras, construíam um cubículo com um grande buraco escavado para lá deixar, a céu aberto, os dejetos das suas necessidades fisiológicas. Dias depois da construção, eu e os meus amigos divertíamo-nos a saltar por cima dessa “fatal” armadilha, tentando não cair. Sinto saudades de tentar apanhar borboletas com um boné [para as soltar de seguida]. Apanhar lagartixas com a mão. Tenho saudades de chegar atrasado ao elétrico da Avenida da Boavista e correr como um louco para apanhar boleia “à guna”, seguro apenas por um pé e agarrado a uns cabos de couro e a um manípulo de madeira. Sinto saudades de jogar à bola no meio da estrada de paralelo com os parcos carros que lá passavam a apitar furiosos por ocuparmos a estrada com calhaus que faziam de balizas. Tenho saudades de um grupo de rapazes e raparigas da mesma idade trocarem anedotas e as histórias e experiências do dia numas quaisquer escadas até ficar bem noitinha, com os vizinhos a reclamar veementemente com o barulho que fazíamos com as fortes risadas.

Não foi por brincar muito que deixei de ser bom aluno. Não foi por me terem permitido divertir no mundo exterior que me senti alguma vez desprotegido ou mal-amado. Bem pelo contrário… deram-me a derradeira hipótese de me sentir em liberdade e aprender com os próprios erros, crescendo em harmonia, em verdadeira sociedade. Em comunhão com os amigos e em respeito com os nossos sentimentos.

Hoje.

Hoje não podemos deixar os nossos filhos sair da escola sem autorização. Precisamos de dez cintos de segurança e vinte cadeirinhas com airbags para os transportar de automóvel. Obrigámo-los a atividades curriculares e extracurriculares monstras que lhes amputa a possibilidade de terem uma infância e adolescência saudáveis ou de poderem simplesmente descansar. Deixámo-los dentro de casa, dentro dos quartos, com potentes wifis, a postarem besteiras nas redes sociais, em detrimento de lhes proporcionar um verdadeiro contacto real com os amigos, com a Natureza… dar-lhes tempo para serem livres e felizes.

Para que serve o relógio afinal? Para uma hipnótica e eterna escravidão, é isso?

Troco o emprego melhor remunerado do mundo por UM ABRAÇO!

Um abraço…

Em âmbito de consulta, constato um padrão que me está a assustar verdadeiramente de morte: a grossa maioria da população desconhece (ou não consegue sentir) qual a sua missão, qual o seu propósito na vida – sente-se vazio e cansado por estar fora de rota. A maioria das pessoas trabalha demais e em sobrecarga mental e emocional (e a culpa não é só da crise). A maioria não se apercebe de que está dentro de um labirinto de ratinhos e não consegue encontrar a saída.
Infelizmente como naturopata, reconheço que o desvio do rumo, este vazio que as pessoas sentem, é o rastilho para as grandes patologias da era moderna.

Mas é fácil a solução, afinal de contas…

Basta querermos.

Basta perder o medo de passar tempo de qualidade com a família, de passar tempo com a Natureza e com o nosso EU interior. Meditar. Meditar ativamente. Caminhar. Contemplar as flores a desabrochar e os insetos a esvoaçar. Tomar a decisão de viver fora da caixa, da sua zona de conforto, das comodidades mórbidas tecnológicas. Calçar umas sapatilhas e fazer um trilho pelo meio dos bosques.
Basta procurar no raio de cinco quilómetros. Existem sempre recantos maravilhosos à espera de serem descobertos.

Basta decidir. Basta querer mudar o paradigma.


Downshifting.

Bem-haja a todos,

Ricardo Novais


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