Sara

SARA

Por Rica Sainov inTrês Quartos de um Amor, Vol. III, Chiado Books


Sara,

O povo diz que o amor é cego. O meu amor é vesgo. Vejo-te a ti e além, através dos teus olhos.

Os poetas dizem que o amor é fogo que arde sem se ver. O amor que sinto por ti é luz. Uma luz imensa branco-pérola, que irradia do meu coração e preenche todos os bocadinhos de mim.

Os cientistas dizem que o amor é uma receita de culinária, uma mescla exótica de químicos neurotransmissores. O meu amor por ti transcende o plano físico. Podia morrer agora e sei-o. Sei que te amaria para sempre.

Lembras-te do dia em que nos conhecemos? Lembras-te da praia serena e daquele pôr-do-sol laranja-fogo sublime?

Nessa noite não consegui pregar o olho a pensar em ti.

O povo chama-lhe insónia. Eu chamei-lhe in…Sara…

Para mim, o amor é honestidade. A honestidade de reconhecer que sem ti sou apenas uma metade disfuncional de algo muito maior… Um puzzle incompleto…

Sara, tu preenches-me.

E, do fundo do coração, quero agradecer-te pelo tempo que me dedicaste, vivendo os meus sonhos e permitindo-me ser eu próprio — a criança que habita cá dentro — sem inibições, sem receios. Ajudaste-me a crescer e a tornar-me uma melhor versão de mim.

Sara, juntos evoluímos e construímos uma vida feliz e radiante.
Sentes orgulho?

A nossa querida Catarina chegou hoje de Lisboa. Está cá para te ver e para nos apoiar. Diz que os nossos netos estão bem e estão lindos. E… poderia ser de outra forma?

Ela está preocupada e quer ver-te melhor.

Eu também, meu amor…

Ver-te assim, lânguida, cercada por cabos e máquinas infernais a apitar num zumbido incessante, nesta cama de hospital, faz-me sentir impotente. É grande a revolta que trago no peito e me trespassa a alma.
Enquanto velo por ti e te observo nesse belo sono de olhos cerrados leio-te esta carta para que sintas o pujante alento de esperança que ainda habita bem vivo dentro de mim.

Desejo sofregamente voltar à nossa praia, ao nosso pôr-do-sol, contigo, juntos, de mãos dadas e com o mesmo brilho de outrora. Desejo ver-te feliz, cantarolando e rodopiando desinibida pela sala ao som de «And I love her» dos teus queridos Beatles. Anseio ouvir novamente a tua voz, à noitinha, a contar-me histórias antes de dormir.

Como te amo…

Volta para mim, por favor… Luta por ti e por nós e destrói esse parasita que te consome a essência.

Sara, meu amor, sara…

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