Desintoxicação
Somos invadidos diariamente por dezenas de publicações a preconizarem a desintoxicação do organismo — o detox. Mercê de tanta informação ficamos habitualmente tão desorientados que somos muitas vezes tentados a negligenciá-la, porque é, de facto, intrincado filtrar e assimilar conceitos não enraizados na nossa cultura. Porém, reconhecendo que a tecnologia evoluiu e que o ser humano evoluiu com ela, temos de concordar que os hábitos de higiene alimentar devam ser também eles revistos para acompanhar essa evolução.
É fácil de entender: nós, os humanos de hoje, modernos,
citadinos — urbanitas —, levantamo-nos de manhã, por recurso a um despertador,
fruto da irremediável subordinação ao relógio e ao tempo, contrariando o ciclo
natural da natureza e do nosso próprio ciclo interno. Tomamos o pequeno almoço
e vamos trabalhar oito a dez horas, fazendo aquilo que gostamos — ou que nos forçamos
a gostar — em ambientes de trabalho habitualmente repletos de tecnologia —
computadores, comunicações móveis, wifi, etc. — e outras fontes humanas
de stresse. Comemos o almoço rapidamente, mastigando mal, e em ambientes pouco
tranquilos e/ou poluídos. Voltamos para casa, absorvendo inadvertidamente toda
a poluição sonora e do ar que foi, entretanto, ao nosso encontro. Dependendo da
nossa vontade, responsabilidades e vida familiar, podemos ir ao ginásio ou
praticar algum tipo de atividade física (bastante recomendável) antes de voltar
para casa. Como o horário de trabalho é extenso, acabamos por jantar já bem
noitinha para compensar o nosso evidente afastamento do lar. Deitamo-nos tarde,
descurando uma boa higiene mental e de sono. No dia seguinte o ritual
repete-se.
Há exceções à regra. Nem todos agimos da mesma forma. Há,
contudo, um traço comum, transversal a todas as pessoas: em maior ou menor
grau, acumulamos, pejorativamente, substâncias, detritos da nossa atividade
celular, que o nosso organismo necessita desesperadamente de eliminar. Essas
substâncias podem ser externas, provenientes da poluição química de tudo o que
nos rodeia, ou internas, decorrentes da nossa excessiva atividade mental e
emocional.
No corpo podemos contar inúmeros emunctórios, ou seja, órgãos
que estão destinados à eliminação desses resíduos. Podíamos falar da pele, dos
intestinos, dos pulmões, dos rins, etc.
Gosto particularmente de centrar a atenção no fígado. Ele
ajuda-nos a transformar e a eliminar os tais detritos externos e internos através
de duas fases bem distintas (a terceira é habitualmente desprezada por se
tratar da eliminação per se).
Na fase um, de extrema oxidação, por recurso às enzimas
microssomais hepáticas, como o citocromo P450, vão-se formar compostos oxidados
e radicais livres. O corpo dispõe naturalmente de antioxidantes endógenos que
nos protegem dessas violentas reações, mas se na nossa dieta do dia-a-dia conseguirmos,
adicionalmente, incluir curcuma ou turmérico, rico em curcumina,
antocianinas, catequinas e outros flavonoides presentes nos frutos do bosque
e bagas, chá verde e algumas leguminosas, clorofila (de cor verde), como
as folhas verdes da salsa e coentro, a betaína da beterraba, o betacaroteno da
cenoura, a vitamina C, etc., ajudamos o organismo — e de que maneira — a balizar
esta atividade, que até podemos considerar de “perigosa”, pois é de grande stresse
oxidativo.
Na fase dois vão ocorrer reações que irão converter o “lixo”
oxidado em derivados mais solúveis em água para serem depois eliminados pelos
rins e pela bílis, nos intestinos.
Os sulforafanos,
presentes nos brócolos, são outro exemplo de composto que ajudam sobremaneira
o processo de desintoxicação do fígado. Atuam beneficamente quer na fase um quer
na fase dois da metabolização hepática. Devemos, pois, cozinhá-los a vapor e
comê-los ligeiramente al dente.
Em síntese, o que se passa no nosso fígado assemelha-se, por
analogia, ao nosso comportamento assertivo, em casa, de colocar devidamente o
lixo em sacos apropriados, estanques, nos contentores, limpar a casa, a cozinha
e a loiça. Quem gostaria, afinal, de
viver constantemente numa casa desarrumada, com pó, com a loiça suja acumulada
em cima da banca e o caixote do lixo já a cheirar mal?
Step out of the box,
Ricardo Novais
Photo by Danilo Alvesd on Unsplash
E também do que vem das nossas televisões, cabos de eletricidade, telemóvel, telefone, computador, tablet e muito mais...
ResponderEliminarNem mais, Jorge... Abraço
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