Como sobreviver (de uma forma natural) a mais um confinamento
Dicas e mezinhas económicas para o confinamento
Olá a todos.
Não seria elegante da minha parte atacar as medidas
restritivas impostas, que estão a asfixiar, indiscriminadamente, a economia e
os nervos de toda a gente, sem oferecer — de bom grado — alguns conselhos para
enfrentar as árduas semanas de confinamento que se deparam diante de nós.
1 — Para as questões de cansaço físico, mental e/ou
emocional, mercê da pressão psicológica dos tempos de pandemia, recomendo o clássico
escalda-pés, que os nossos avós tão bem conheciam e usavam. À luz da
Medicina Tradicional Chinesa (MTC), estamos a dar calor a pontos fundamentais
como o yongquan, o taixi, o fuliu ou o sanyinjiao,
ajudando sobremaneira a “recarregar” a nossa energia. Aconselho, portanto, a
mergulhar amiúde os nossos pés numa bacia com água bem quente, a “escaldar”
(obviamente com a preocupação de nunca provocar queimaduras), e sal integral
marinho (ou sais de Epson), até à altura de quatro dedos acima do maléolo (osso
proeminente do tornozelo). À água quente sugiro ainda adicionar algumas gotas
de óleo essencial: se andarmos tensos, 3 gotas de OE de alfazema (Lavandula
officinalis); se tivermos micoses, 3 gotas de OE de árvore do chá (Melaleuca
alternifolia); se tivermos varizes ou má circulação, 3 gotas de cipreste (Cupressus
sempervirens); se tivermos tosse ou afetação das vias aéreas superiores, 3
gotas de OE de eucalipto (Eucalyptus radiata).
2 — Eu, pessoalmente, faço moxabustão a mim próprio nos pontos de acupuntura associados a extrema vitalidade. Ora a moxabustão, sob a forma de charuto de artemísia ou de pequenas moxas autoadesivas, deve ser usada com extrema prudência, pois envolve o risco bem real de queimaduras (e, negligentemente, de incêndios). Para quem não está habituado a estas andanças, recomendo, em alternativa, colocar todos os dias um pequeno saco de sementes (ou caroços de cereja) aquecido na zona abaixo do umbigo e nas costas (à mesma altura do umbigo), alternadamente. Se conseguirmos colocar o mesmo saco de sementes sobre os joelhos, para dar calor no famoso ponto zusanli, potenciando a imunidade e a longevidade, seria excelente. Quem não tiver um saco de sementes pode usar um saco de água quente.
3 — Gargarejar com água quente e sal. Os vírus,
especialmente os que têm tropismo para as vias aéreas, detestam água quente com
sal. Atenção, que também aqui, tal como no escalda-pés, é importante não
utilizarmos uma temperatura da água muito elevada, pois corre-se o risco de provocar
queimaduras na faringe / laringe, agravando a situação. A água deve estar a uma
temperatura o mais próximo do morno / tépido. Quem não se ajeitar muito bem com
este procedimento — que, afinal, tem custo zero —, pode optar por um colutório de
farmácia, antissético. Importante é gargarejar, especialmente quando se tem
sintomas (tipo piquinhos) na garganta.
4 — Fazer uma inalação de vapores de água a ferver com
óleos essenciais. Como se faz? Numa bacia colocamos um jarro de água fervente
(por volta de um litro), colocamos os óleos essenciais e, sempre com os olhos fechados,
aproximamos cuidadosamente a cara, com uma toalha a cobrir a cabeça e a
bacia. Esta técnica bem arcaica, estranhamente,
foi remetida para o esquecimento. Contudo, considero-a bem eficaz numa situação
em que “percebemos” que fomos atacados por um vírus respiratório, que provoca
habitualmente tosse e/ou coriza (pingo no nariz). Recomendo a utilização de
duas gotas de OE de rosmaninho (Rosmarinus officinalis) e duas gotas de OE
de eucalipto (Eucalyptus radiata). Quem tiver OE de ravensara e cajeput,
pode utilizá-los também, mas sempre com bastante precaução. Quem não tiver qualquer
destes óleos essenciais, pode ir a um bosque perto de casa trazer umas folhas
de eucalipto frescas e colocá-las na água fervente. Quando preparo para mim ou
para a família, costumo colocar adicionalmente uma gota de óleo essencial de
eucalipto no ponto Rim 1, que fica na planta dos pés, e também no ponto Pulmão 1,
que fica numa depressão abaixo da clavícula, ao chegar ao ombro.
5 — O enraizamento ou grounding no inverno
pode afigurar-se algo intrincado. Simplesmente, com temperaturas negativas
durante a noite, não me parece minimamente realista, muito menos benéfico,
colocar os pés descalços na relva ou na terra, com o frio que se faz sentir lá
fora. Contudo, é de vital importância manter os passeios higiénicos na
natureza, por exemplo passeando os nossos animais de estimação. Contudo, quando
estamos confinados ao interior do domicílio, a falta de contacto com a natureza
pode ser melhorada, colocando uma gota de óleo essencial de vetiver (Vetiveria
zizanioides) nos pulsos, esfregando um contra o outro até este óleo (bastante
espesso) ser totalmente absorvido. Também podemos colocar uma gota de OE de
cedro atlas (Cedrus atlantica) na planta dos pés, ao acordar.
6 — Dormir bem. O sono regenera e promove a autocura. Contudo, como reina o medo coletivo, somos sobrecarregados com pensamentos negativos na hora de dormir. Se passarmos uma noite em branco, seja por que motivo for, no dia seguinte recomendo fazer uma suplementação com L-tirosina, que é um aminoácido precursor da dopamina e da norepinefrina. Ajuda a combater a exaustão de uma noite mal dormida. Porém, não há evidências que comprovem a passagem da maior parte deste aminoácido através da barreira hematoencefálica. A minha experiência empírica diz-me, contudo, que a sua toma é benéfica e perfeitamente inócua, desde que não se tome concomitantemente com levodopa (para o Parkinson) ou com levotiroxina (para o hipotiroidismo). De qualquer das formas, se nos falhou uma boa noite de sono, podemos sempre recorrer ao powernap, com recurso a frequências sonoras binaurais. A frequência de 136,10 Hz, por exemplo, favorece o grounding. Quando um diapasão de 136,1 Hz é usado em conjunto com um diapasão de 128 Hz, obtemos um profundo estado meditativo mercê da formação de ondas alfa pelo efeito binaural. O efeito binaural obtém-se pela subtração das duas frequências — 136,1 Hz – 128 Hz = 8,1 Hz — ou seja, uma onda alfa. O powernap, que deve ser efetuado sempre de auscultadores postos, faz uma viagem entre as ondas theta e alfa e auxilia o processo de regeneração cerebral. Deixo aqui um link do Youtube do áudio que eu costumo fazer: https://www.youtube.com/watch?v=r_nOgNmhgc4&t=9s.
7 — As vitaminas. Se quisermos reforçar naturalmente
a nossa imunidade, recomendo tomar vitamina D3 — colecalciferol. Nesta altura,
de pouco sol, podemos tomar 4 a 6 gotas de Vigantol®, sem grandes constrangimentos.
Atenção que quem se suplementa com vitamina D deve fazer com regularidade o
doseamento serológico de 25-hidroxi-vitaminaD. Para que estejamos em valores
normais desta vitamina lipossolúvel devemos ter entre 40,0 e 100,0 ng/mL de
25-OH-D. Para prevenir infeções víricas recomendo também a ingestão de 500 a
1000 mg de vitamina C natural, com rosa canina. Se já estiver a decorrer a
infeção por SARS-CoV2, a toma pode ser superior, até 3000 mg por dia.
8 — Os antioxidantes. Em alturas de maior incidência
de viroses, podemos aumentar o aporte de antioxidantes contidos na alimentação.
É o caso do chá verde, romã, uvas e curcuma. Como o corpo dispõe de
antioxidantes próprios podemos ajudá-los tomando alguns dos seus cofatores, como
por exemplo o zinco e o selénio. A infeção por SARS-CoV2 tem um tropismo
peculiar para os pulmões, que, devido a uma inflamação exacerbada, podem
começar a ficar danificados. Neste caso recomendo a suplementação com
L-Glutamina, que é um aminoácido que “alimenta” as células que sofrem extrema
renovação (turnover celular). Podemos tomar entre 5 e 10 gramas diários
deste aminoácido numa fase aguda pulmonar.
9 — A desintoxicação. Estarmos em confinamento não
quer dizer que não podemos aproveitar este tempo para tratar do nosso corpo. Se
há coisa que é mandatória fazer, nestes tempos que correm, é uma
desintoxicação. Todas as pessoas, em maior ou menor grau, acumulam,
pejorativamente, substâncias, detritos da atividade celular, que o organismo
necessita desesperadamente de eliminar. Essas substâncias podem ser externas,
provenientes da poluição química de tudo o que nos rodeia, ou internas,
decorrentes de uma excessiva atividade mental e emocional. No corpo podemos
contar inúmeros emunctórios, ou seja, órgãos que estão destinados à eliminação
desses resíduos. Gosto particularmente de centrar a atenção no fígado. Ele
ajuda-nos a transformar e a eliminar os tais detritos externos e internos.
Existe um produto no mercado, disponível em farmácias e parafarmácias, chamado
Cholagutt®.
É relativamente económico (aprox. 5,00 euros). Já fico muito satisfeito quando
as pessoas acordam de manhã e, durante um mês, tomam 20 gotas de
cholagutt em meio copo de água morna, em jejum, um quarto de hora antes do
pequeno-almoço.
10 — Erradicar a ansiedade e a tristeza. As infusões de plantas como a cidreira, a camomila, a tília ou até a alface, que temos habitualmente na nossa cozinha, fornecem flavonoides e outros metabolitos benzodiazepina-like, que nos ajudam rapidamente a acalmar, favorecendo o sono. São inócuas e, não havendo contraindicações conhecidas, podemos servi-las inclusive às crianças. O chá de hipericão (Hipericum perfuratum) tem propriedades antidepressivas comprovadas. Contudo, mercê de haver um difícil controlo no doseamento de hipericinas e hiperforinas presentes no chá, esta infusão pode apresentar toxicidade e nunca deve ser tomada em conjunto com antidepressivos orais nem com contracetivos. É uma opção bastante económica, mas, para o caso de depressões ligeiras ou moderadas, sugiro, em alternativa, a toma do aminoácido L-triptofano e/ou de 5-HTP, extraído da planta Griffonia simplicifolia. São precursores da serotonina, que é um neurotransmissor que proporciona bem-estar e humor. Adicionalmente, adaptogénios como a Rhodiola e o Eleuterococo podem ajudar a dar resistência ao stresse. Recomendo sempre um destes quando me deparo com um nítido desgaste psicológico. Inalar OE de lavanda fina (Lavandula angustifolia) ou OE de gerânio (Pelargonium graveolans) também são boas opções para uma tranquilidade natural.
Saúde para todos e… não cedam ao MEDO,
Ricardo Novais
Grato à Cristina Abreu pela sua contribuição neste texto.
As sugestões apresentadas não dispensam o aconselhamento com o seu médico ou profissional de saúde.
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