Autoimunes

 

Uma condição autoimune é caracterizada por um comportamento aberrante do nosso sistema imunológico que inusitadamente gera respostas imunes contra as células e tecidos do próprio organismo. As doenças autoimunes têm uma etiologia complexa e multifatorial.

Estão catalogados como autoimunes uma diversidade de estados patológicos como a tiroidite de Hashimoto, a doença de Crohn, o lúpus eritematoso sistémico, a artrite reumatoide ou a espondilite anquilosante. Muitos mais poderiam ser inumerados.

A questão que levanto neste artigo é:

E se, na origem, o problema não for autoimune, mas simplesmente IMUNE…?

Vamos debruçar-nos, a título de exemplo, sobre a espondilite anquilosante (EA).

A EA é uma doença inflamatória da coluna vertebral. Tem início na zona lombar/sacroilíaca.

Por proximidade anatómica encontramos o mesentério e adjacentes gânglios linfáticos.

Imaginemos então que a nossa flora intestinal, num ponto qualquer temporal, sofreu uma alteração (dietas erróneas, antibióticos, infeção, etc.) e, no resultado dessa dura batalha, ganhou uma bactéria — a Klebsiella pneumoniae — que se multiplicou desmesuradamente, colonizando os intestinos.

Para tentar conter a avalanche contínua de Klebsiella, o nosso organismo pediu auxílio ao sistema imunológico para ocorrer em peso aos intestinos. No processo foram (e continuam a ser) segregadas imonoglobulinas A (mas também IgM, IgG e IgE) contra os péptidos e outros constituintes estruturais do microrganismo.

Nos meandros desta agressão contínua, o enredo vai adensar-se quando estas imunoglobulinas decidem reconhecer não só a bactéria, mas também outros antigénios presentes no corpo, estruturalmente semelhantes. Vão andar a circular massivamente no sangue e, em última instância, dirigir-se, de um modo muito peculiar, para as articulações da coluna vertebral.

Para comprovar esta teoria, foram efetuados vários estudos. Todos demonstraram a existência de anticorpos anti-Klebsiella nas articulações da coluna vertebral dos doentes com EA e de uma quantidade anormalmente superior daquela bactéria nas fezes de indivíduos padecendo de EA comparativamente a indivíduos sãos.

Podemos então falar de um fenómeno de mimetismo imunológico.

A reumatologia convencional dá-nos os anti-inflamatórios não esteroides, os corticosteroides e outros imunomoduladores como os anti-TNF e a sulfassalazina (uma espécie de mistura de antibiótico com anti-inflamatório). Todavia, a grande maioria destes medicamentos alopáticos, além da toxicidade intrínseca, apresentam a característica de suprimir a imunidade, com vista a melhorar os sintomas. Ou seja, inevitavelmente, tornam as pessoas mais suscetíveis a outros agentes infeciosos.

Como tratar então estes problemas de uma forma mais natural?

À semelhança das alergias é recomendável, em primeiro lugar, limpar o “terreno”, fazendo uma desintoxicação dos órgãos emunctórios — os intestinos, o fígado, o sistema linfático, os rins. Esta desintoxicação pode ser efetuada com o recurso à fitoterapia ou à homeopatia. Não obstante, dependendo da gravidade da situação, pode ser ponderado um enema ou até um hidrocólon, bem como um “antibiótico” fitoterápico para eliminar o excesso de parasitas, leveduras e até enterobactérias. É importante este procedimento para tratar (também) o fenómeno de SIBO, caso ele exista. Porém, algumas destas plantas podem manifestar toxicidade (como o óleo essencial de oregão e a Hydrastis canadensis) e devem ser utilizados com muita precaução.

O passo seguinte é o enfoque na dieta. É fácil de compreender: ao removermos o amido, que é o alimento preferencial da Klebsiella, ela vai morrer à fome. Assim sendo, no caso particular da EA, pode ser considerada uma dieta pobre em amido e outros açúcares altamente fermentáveis, como a inulina. A dieta FODMAP pode também ser uma alternativa, especialmente se a pessoa sofre concomitantemente de uma inflamação intestinal concreta, como a colite, a síndrome do cólon irritável ou a doença de Crohn.

Como existe um comprometimento da permeabilidade do trato digestivo — leaky gut — que é imperativo sanar (mesmo que não haja qualquer sintomatologia intestinal), é recomendável o uso de curcuma e de gengibre, dois anti-inflamatórios naturais com tropismo para o intestino. Convém, igualmente, fazer uma suplementação com L-glutamina, que é um aminoácido amplamente utilizado pelas células de elevado turnover (isto é, células que estão em constante renovação, como é o caso das do nosso trato gastrointestinal), pois ajuda a cicatrizar a mucosa.

A toma diária de ómega 3 – EPA e DHA (de peixe, sem toxinas) — é fundamental nas afeções autoimunes porque são ácidos gordos polinsaturados com elevado poder anti-inflamatório.

Os antioxidantes. As doenças inflamatórias geram stress oxidativo. Podemos aumentar o aporte de antioxidantes contidos na alimentação. É o caso do chá verde, romã, uvas e curcuma. Como o corpo detém naturalmente antioxidantes endógenos, podemos ajudar a sua função com a ingestão de cofatores essenciais. É o caso do zinco, das vitaminas do complexo B e do selénio. Este último é fundamental nos casos em que está envolvida a glutationa peroxidase (patologias da tiroide, p.e.). A toma de 50 mcg é suficiente. Corresponde a duas castanhas do Brasil (Maranhão, Pará).

As doenças autoimunes esgotam as reservas de vitamina D e a inflamação crónica provoca uma perda de atividade dos recetores celulares para esta vitamina. Com a preocupação de fazer periodicamente uma avaliação dos níveis sanguíneos, por forma a nunca ter os valores perto da zona de uma eventual toxicidade, devemos fazer uma suplementação generosa com colecalciferol (vitamina D).

Por último, e talvez o mais importante, vamos “desalojar” a Klebsiella pelo recurso a probióticos. Os melhores probióticos são, contudo, os caseiros: o chucrute, o kefir, o kefir de água, a kombucha, entre outros.

Afinal, qual carraça, a Klebsiella não vai desprender-se assim tão facilmente sem dar luta, sem resistência…

Neste caso particular apontou-se uma bactéria como o responsável. Contudo, já foram comprovadas relações entre as várias patologias autoimunes e uma miríade de agentes etiológicos:

Agentes químicos: solventes, metais pesados (como os das amálgamas dentárias), o fumo do tabaco, as moléculas estabilizadoras do plástico (como os bisfenóis, presentes nos plásticos), a sílica (quartzo, vidro);

Agentes físicos: radiação ionizante;

Agentes microbiológicos: Klebsiella, Proteus mirabilis, Parvovirus B19, vírus de Epstein-Barr (EBV), Streptococus do grupo A;

Agentes alimentares: glúten; iodo (I2), alguns alimentos iniciados muito precocemente na alimentação.

Se conseguirmos detetar a causa, podemos ponderar uma dessensibilização com o recurso ao respetivo homeopático. Se o agente for presumivelmente a sílica, porque a pessoa teve muito contacto com pós de pedra (com quartzo) quando era criança, por exemplo, podemos pensar em fazer uma toma de Silicea 100CH, 5 grânulos, uma vez por dia, durante uma semana.

De qualquer das formas, à luz da origem metafísica da patologia, quem padece de uma doença autoimune vive um intenso conflito interno ao ponto de querer “comer” o seu próprio corpo… de se autodestruir…

É recomendável, por conseguinte, realizar uma introspeção, uma viagem interior para localizar a génese do bloqueio mental, emocional ou até espiritual que despoletou o problema.

Temos de fazer as pazes connosco.

VOTL,

Ricardo Novais


Os conselhos prestados neste blogue não dispensam a consulta com o seu profissional de saúde.
Photo by Dylan Sauerwein on Unsplash

Comentários

  1. Olá Ricardo. Infelizmente tenho psoríase há talvez, 20 anos. As manifestações nunca foram muito gravosas, embora no início, se manifestassem nas palmas das mãos, joelhos e cotovelos. Fiz tratamento, na altura com pomadas e comprimidos de cortisona, conforme indicação médica e depois de estabilizado o probleme, nunca tomei mais medicação. Agora, passados estes anos, comecei a ter muitas dores nas costas e articulações e fui à reumatologista, pois as análises mais especificas, mostraram uma alteração. A médica mandou repetir a análise a esse valores alterados. Vamos ver o resultado. Ela diz que pode ser resultado da psoríase ou outra doença autoimune! Enfim... estou tramada. Beijinho

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    1. Olá. A psoríase tem uma interpretação biológica: “(…) indica que não se sente reconhecida pelo que é. Pode até sofrer de um problema de identidade e desejar ter outra personalidade que não a sua.” Todos os problemas de pele dão-nos a leitura de que a forma como nos apresentamos ao mundo pode não corresponder à nossa verdade interior. Ou seja, pode surgir psoríase quando queremos mostrar aos pais e à sociedade que somos bons médicos, mas bem lá no íntimo queremos ser músicos, por exemplo. As dores do tipo reumático dão indicação de uma afeção do tipo artrite, junto com a psoríase, faz lembrar algo do que se chama artrite psoriática. Tens de ver quais os membros ou parte do corpo onde tens mais dores. Também isso tem interpretação... Enfim... as melhoras :-)

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  2. Olá Ricardo , muito obrigada pelo texto . tenho tiroidite de Hashimoto ..o que poderei fazer para tratar? Muito obrigada

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    1. Olá. Eu gosto sempre de entender a doença como um sinal que o corpo envia para alertar de um bloqueio emocional, mental ou espiritual. No caso particular da tiroidite, temos de entender que existe, em primeiro lugar, um conflito interno - o corpo está a "combater" o corpo. Depois vamos ver a causa desse conflito. Como a tiroide se situa na garganta, portanto no chacra laríngeo, há questões implícitas envolvendo a criatividade e a nossa expressão (no trabalho que fazemos, por exemplo), mas, sobretudo, na maneira em que apresentamos a nossa verdade interior ao mundo. De alguma forma, por pressão da sociedade, parental ou outra, houve um bloqueio na comunicação. Acho que há muitas soluções homeopáticas, como o R20, do Dr. Reckeweg, florais de Bach, que podiam ajudar na sua situação particular. De um ponto de vista naturopático, era fundamental uma desintoxicação e uma reformulação da dieta para outra anti-inflamatória. Para qualquer hipotiroidismo gosto da suplementação com selénio, para ajudar a glutationa-peroxidase, que é o nosso antioxidante mais preponderante nas células da tiróide. Duas castanhas do Pará por dia, fariam uma grande diferença. Depois há que combater o cansaço e todas as questões associadas. Gosto muito de geleia real para aumentar os níveis de energia, mas também o famigerado escalda-pés :-)

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    2. Importante, mesmo importante, é a suplementação com vitamina D3. Isso é transversal para qualquer autoimune :-)

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  3. Muito obrigada por sua resposta!! Faz todo o sentido !! Vou seguir a risca! Gratidão !! 🙏♥️🥰

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