Descontaminação
Nos dias de hoje é notória uma romantização — quase poética — do natural e do biológico. Com certeza seria desejável que, globalmente, todos os protutores de vegetais e frutas enveredassem numa transição pacífica para uma produção isenta de xenobióticos, abdicando de todos os fungicidas, pesticidas e outros fitoterapêuticos químicos. Contudo, entendemos que tal panorama se afigure manifestamente assintótico, até por questões económicas. Afinal, a produção biológica requer esforço e dedicação, por enquanto incompatível com a agricultura em massa que é praticada para satisfazer a procura.
Depois, comprar vegetais
e frutas provenientes da agricultura biológica pode acarretar uma enorme sobrecarga
no orçamento familiar.
O meu conselho — para
quem vive afastado dos meios urbanos — vai no sentido de cada família ter a sua
própria horta de frutas e legumes, onde só sejam usados fitoquímicos como
último recurso. A jardinagem e o subsequente contacto com a terra promovem o earthing
e o grounding, ajudando a aliviar o stresse, entre outras claras
vantagens. Não havendo essa possibilidade, recomendo que consuma fruta,
vegetais e ovos de familiares e amigos que os cultivem de uma forma natural e
estejam dispostos a vender ou oferecer os seus produtos.
Em diversas cidades
do país estão já plenamente implementados vários polos de hortas urbanas. Se for do seu interesse, o leitor pode candidatar-se
junto da sua autarquia local a uma talha para construir o seu próprio quintal
de frutas e legumes frescos. Viver em cidade não é, portanto, um impedimento e
— acreditem — comer o que se planta tem um sabor deveras especial.
Devido a uma miríade
de justificações válidas, as opções apresentadas nos parágrafos anteriores podem
não ser exequíveis ou até mesmo desejáveis. Neste caso, resta-nos apenas uma
única alternativa — adquirir as frutas e legumes da produção convencional e fazer
a devida descontaminação. Não uma descontaminação dos eventuais agentes
microbiológicos (os parasitas, as bactérias ou os fungos), mas dos fitoquímicos
que são aplicados nas culturas para combater as pragas e doenças que as molestam.
Importa ressalvar que os contaminantes estão presentes na superfície, pela pulverização, mas também por incorporação sistémica, quando a planta “puxa” pela pele (e pelas raízes) os pesticidas, conduzindo-os
até camadas mais profundas da planta.
Yang et al recomendam mergulhar os vegetais em bicarbonato de sódio numa concentração de 10 mg/ml durante 15
minutos. Será o equivalente a duas
colheres de chá cheias de
bicarbonato para cada litro de água (uma taça), aproximadamente. A quase
totalidade dos pesticidas da superfície são, desta forma, removidos. Embora este
método atue também sobre os químicos que penetram pela pele dos vegetais, o
método mais eficaz será sempre o de descascar o fruto. Contudo, isso tem
implicações a nível nutricional por impedir a ingestão de compostos bioativos importantes
como as fibras, os compostos polifenólicos, os pigmentos, as vitaminas e os minerais
presentes na casca rejeitada.
Victory of the Light,
Ricardo Novais
Referências: Yang T, Doherty J,
Zhao B, Kinchla A, Clark J, He L, Effectiveness of Commercial and Homemade
Washing Agents in Removing Pesticide Residues on and in Apples, Journal of
Agricultural and Food Chemistry 2017 65 (44), 9744-9752
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